sábado, 18 de setembro de 2010

Capítulo 7 – Recordações 4: O Treinamento

Gabriel e a amiga seguiram Elisabeth para fora do quarto. Ela os guiou por um corredor de paredes vermelho sangue. O vampiro reparou que tanto aquele corredor quanto o quarto onde acordara tinham aquela cor nas paredes e móveis de madeira escura. Um tanto irônico, uma vez que era agora a casa de três sangue-sugas. O corredor levava até um cômodo grande, aparentemente, a sala de estar da qual ela falara.

Diferentemente dos outros aposentos onde ele estivera, aquele apresentava uma decoração toda em cores frias, lembrando pedras. Uma grande mesa de Onix ficava num dos lados da sala, do outro havia uma espécie de estante feita de mármore. Até mesmo as paredes e as poltronas da sala tinham aspecto de pedra.

Os três param no meio da sala, os dois amigos impressionados com a decoração do lugar e Elisabeth apenas esperando. Após alguns intantes ela começou:

-Bom, eu tenho um número considerável de coisas que preciso lhes dizer. Desde regras e limites até o funcionamento e desenvolvimento de seus poderes. Normalmente, eu deveria começar com o primeiro... Mas eu, realmente, odeio essa parte... Então, vamos pular para uma aula de teoria e prática. Vamos para o lado de fora.

No caminho para a porta de vidro que dava para o jardim, localizada do lado oposto da mesa, Gabriel ficou ansioso imaginando como seria a noite para ele agora...

Sua pergunta foi respondida no exato instante que Elisabeth deslizou suavemente para o lado da porta. Uma lufada de vento frio invadiu todo o ambiente. O olfato do vampiro foi invadido por centenas de cheiros diferentes, a maioria desconhecidos para ele até então. Ele podia diferenciar o odor do orvalho e das gotículas de água levadas ao ar na pequena queda d’água 50 metros para dentro da floresta que rodeava a casa a mais ou menos dez metros.

Sua surpresa foi ainda maior no momento em que ele pisou na grama, recebendo diretamente em seu corpo a luz do luar. Era uma sensação indescritível, semelhante a um leve formigamento por todo o seu corpo. Era quente como o Sol, mas ainda assim frio. Era como se cada célula de seu corpo se agitasse, sentia-se capaz de tudo. E, principalmente, sentia como se ainda estivesse vivo, pela primeira vez desde que acordara naquela noite.

Ele não sabia dizer quanto tempo se passou desde que ele começou a concentrar-se naquela sensação maravilhosa. Quando voltou a si, Elisabeth estava sentada em uma pedra, olhando para ele e para Dani, compreensiva como sempre.

- Isso que vocês estão sentido é algo característico nosso. Ou melhor, de nós Illuminati.

Gabriel e Dani sentaram-se na grama, próximos da vampira. Só então ele reparou no novo mundo que o cercava. Tudo parecia ter ganhado um brilho diferente, sobrenatural.

- Primeira lição da noite, prestem atenção. Nosso clan tem uma ligação mítica com o luar. Diz a lenda que o primeiro membro do nosso clan, séculos atrás, fez um pacto com um espírito da lua para poder salvar sua amada da morte...




Dimitri e Alessia corriam, desesperadamente, para dentro da floresta. Eles ainda podiam ouvir os gritos furiosos dos aldeões que os perseguiam. Alessia havia sido acusada de ser uma bruxa. E agora, todos da vila estavam atrás dela, querendo queimá-la viva para acabar com as mortes e com a falta de comida. Mesmo seus mais queridos amigos haviam negado-lhes abrigo e agora estavam junto com os demais..


Ao olhar para trás, Dimitri viu que o brilho das tochas havia se distanciado um pouco, porém, não o suficiente.


- Dimitri... – disse Alessia com a voz tremula, apontando para a frente.


Foi nesse instante que ele teve certeza que seus destinos estavam para sempre selados. A sua frente estava o grande lago da região. Levando em conta a temperatura da água e as fortes correntezas, em certos pontos, sabia que seria impossível para eles atravessá-lo nadando. Ele tinha a esperança de despistar os aldeões antes de chegar naquele ponto.


Era isso, tudo acabaria ali... Ele faria de tudo para poder salvar Alessia do terrível destino que a aguardava.


Foi então que ele viu o grande reflexo da Lua na água. Aquilo parecia como um portal para outro mundo... E como que em resposta ao seu pensamento, uma forma luminosa prateada levantou-se da água, mais precisamente do reflexo na água. Tinha uma forma inconstante de um humanoide com dois longos chifres saindo de cada lado da cabeça que apontavam para o chão.


- Você quer salvar sua vida e a de sua amada? – perguntou a criatura.


- Sim... Quem é você?


- Eu sou o espírito da lua... E se você me deixar tomar seu corpo por alguns momentos, eu irei salvar os dois...


-Faça isso! Por favor, eu lhe imploro. Salve Alessia e eu.


Dito isso, a forma começou a vir em sua direção. Dimitri pode reparar que o ser tinha um contorno corporal feminino. Começava a tomar uma forma física mais definida. Era uma “mulher” linda...


Ela aproximou o rosto do seu, seus lábios quase tocando os de Dimitri...


Foi então que a verdadeira forma da criatura foi revelada. O brilho prateada foi substituído por uma leve aura vermelha. A criatura se transformou em uma mulher com longos cabelos negros, orelhas levemente pontudas, pele bronzeada, os dois chifres agora eram negros e dentados. Em suas costas cresciam asas negras semelhantes as de um morcego e por entre suas poucas roupas saia uma cauda fina e pontuda. Seus pés estavam descalços e tinha unhas pontiagudas nas pontas dos dedos. O mesmo acontecia em suas mãos. Seu rosto, antes angelical, agora apresentava um sorriso insano e perverso, com caninos salientes, e olhos ora amarelos ora avermelhados, lembrando uma chama.


Antes que Dimitri ou Alessia pudesse reagir, o ser demoníaco cravou as unhas de ambas as mãos no peito do rapaz e separou as mãos como se abrindo seu peito. Misteriosamente, ao invés de sangue, uma forte luz leitosa saiu de dentro do buraco. Em instantes, a criatura jogou-se dentro do buraco que abrira, para o interior do corpo de Dimitri.




Porém, Dimitri havia sido enganado. A criatura que lhe apareceu não era um espírito, e sim, um demônio disfarçado. Uma vez que havia tomado conta do corpo de nosso antepassado, ele virou-se para Alessia e a multidão que chegava ao local...

Houve um silêncio...




Poucos momentos após a criaura ter tomado o corpo de Dimitri, uma grande multidão os alcançou, vinda das arvores. Vários pontos luminosos de cor alaranjada sairam da floresta, práticamente todos os aldeões carregavam tochas, além de pequenas foices de colheita, porretes e até mesmo forcados.

Alessia, mesmo não tendo entendido o que acabara de acontecer com seu amado, se encolheu atrás dele, procurando desesperadamente algum abrigo em seu corpo.

- É a bruxa! Ela trouxe essa praga maldita para nossa vila, destruiu nossas plantações e matou nossas famílias!

- Estamos perdidos - disse a garota entre lagrimas, encostando assustada a cabeça nas costas do amado - Nós vamos morrer...

- Peguem-la! Ela e o traidor que a protege! Matem-lo e peguem ela!

- Não serei eu o morto...

Se Alessia não tivesse visto que esss ultimas palavras haviam saido da boca de Dimitri, ela nunca teria reconhecido sua voz. Ela estava extremamente distorcida, abafada e de tom irregular. Como a de uma pessoa possuida...

- Peguem-los agor...

O homem com o forcado não pode terminar a frase. Em menos de um segundo, o demônio cruzou a distância entre eles e desferiu um soco em seu abdomen forte o bastante para joga-le alguns metros para trás, derrubando também outros 3 homens. Antes que qualquer um dos humanos pudesse reagir, Dimitri pegou o forcado que o homem derrubara, girando violentamente sobre sua cabeça e acertando a tempora de um adolecênte com a ponta de madeira. O jovem caiu sem vida no chão imediatamente, com o crânio visivelmente fraturado. Em continuidade ao movimento giratorio, o corpo possesso arremeçou  forcado, cravando os 3 dentes no peito de um velho que investia contra ele.

Alguns aldeões começavam a recuar ao ver seus companheiros cairem tão faclmente, já outros ficaram ainda mais agitados, como que em um frenesi insano. Os que antes recuavam, voltaram a avançar contra Dimitri quando viram os outros fazendo isso sem medo. Aquilo era exatamente o que ele queria. Ele habilmente desviou dos golpes vindos de todos os lados, esperando que o maior número possivel de atacantes estivesse perto dele. Quando apenas 3 não estavam ao seu redor atacando-o, ele rapidamente pegou a adaga que uma mulher usava paa golpea-lo. O demônio saltou verticalmente à quase 3 metros de altura, virando de cabeça para baixo quando atingiu a altura máxima, e durante a queda ele girou o corpo, passando habilmente a lâmina pelo pescoço de quase todos que o certavam.

Chegando ao chão, Dimitri apoiou a outra mão, aparando a quedra, e rapidamente se pos de pé. Comum rápido gesto, abriu a barriga da mulher que conseguira escapar de seu ultimo golpe. Quando ela caiu ao chão, tentando mater com as mãos suas entranhas dentro do próprio corpo, um dos aldeões que não entrara no ataque começou a se virar para correr. Imediatamente, o demônio jogou a adaga em sua direção, cravando ela em suas costas, na altura dos rins, rompendo-lhe a coluna devido a força monstruosa do arremeço. O jovem caiu paralizado no chão.

Aproveitando o momento de espanto causado pela cena, ele terminou com os dois últimos inimigos que restavam. Cansado da brincadeira, ele apenar bateu a cabeça de um contra a do outro, quebrando ambas com o golpe. Ele foi então até o jovem agora paralítico da cintura para baixo. Lentamente, o demônio retirou a adaga das entranhas do garota e virou seu corpo de barriga para cima.

- Dimitri, sou eu... Não me mate... Pelos nossos anos de amisade...

- Desculpe-me, mas o Dimitri não está no momento.

- Por que você está fazendo isso conosco? - continuou o jovem, cuspindo sangue entre cada frase - Nós eramos amigos... Por que você matou a todos...

- A hipocrisia humana me espanta mais a cada dia - respondeu o demônio de forma sarcástica - Vocês quase me superam... Quase

Dizendo isso, ele carvou novamente a adaga na barriga do garoto e arrastastou ela em direção ao seu peito, arrancando gemidos de agonia da vítima. Normalmente ele teria brincado por horas com ele, torturando-o de maneiras inimaginaveis, mas ele não podia esquecer da mulher, que olhava para tudo aquilo horrorizada. Ele então cravou a lâmina abaixo da mandíbula do rapaz, direcionando sua ponta para seu cérebro, terminando com seu sofrimento.

O demônio havia matado a todos, enquanto Dimitri via tudo pelos olhos de um corpo que ele não comandava mais. Deixando apenas Alessia viva. Foi então que, em meio aos corpos dilacerados de todos os aldeões, ele caminhou na direção da mulher, pegando-a pelo pescoço e a matou ali, cravado as garras de sua outra mão em seu abdômen, de modo que apenas seu pulso ficasse fora do corpo da mulher. Depois disso, ele abandonou o corpo de Dimitri. Agora sem alma e amaldiçoado a uma vida eterna alimentando-se de sangue humano, com o corpo morto de Alessia em seus braços.


O recém criado vampiro não pode aguentar o que havia acontecido. Matara seu grande amor e todos os aldeões com suas próprias mãos... Por que ele? Por quê!? Aquilo não podia estar acontecendo, não podia acreditar em tudo aquilo...


Dimitri olhou para a Lua, por entre as lágrimas negras de seu desespero e clamou:


- Lua, esfera divina. Disco de prata que traz luz até mesmo para a mais escura das noites. Eu vos peço ajuda para um desesperado... Por favor, me ilumine mais uma vez... Ilumine Alessia mais uma vez...


Em resposta, uma nova criatura de brilho prateado desceu em direção à margem do rio onde tudo acontecera, vinda da própria Lua.


- Ser amaldiçoado. Tu, que sofrestes com a sagacidade voraz de um demônio entediado, pediste minha ajuda, e aqui estou – disse o espírito lunar, dessa vez com uma voz que ecoava no interior de quem o ouvia.


– Posso salvar sua amada, mas, em troca, peço-lhe que, desse dia em diante, reverencie sempre a mim.


Dimitri ficou relutante em aceitar um segundo acordo naquela noite... Mas não havia tempo. Ele apenas concordou com a cabeça.


O espírito lunar pôs uma mão sobre a cabeça dele e outra sobre a de Alessia, proferindo algumas palavras desconhecidas para ele.


- Morda ela...


- O que!? Ela já morreu...


- Morda ela – Repetiu. Dessa vez ele não teve dúvida. Cravou os dentes no pescoço de seu amor. Ele pode sentir uma sensação nova de prazer.


-Desse dia em diante, você e seus descendentes devem reverenciar-me. Em trocas dou-te alguns poderes e principalmente uma vida nova para Alessia.


Finalmente, o peito de Alessia começou a mover-se timidamente, apenas por hábito.


- Vivam sua enorme paixão através das eras, mas nunca esqueçam de seu compromisso comigo. Tudo que lhes dei posso tirar um dia...




Os três vampiros ficaram em silêncio durante alguns minutos com o fim da narrativa.

- Quais eram os poderes que o espírito mencionou? Eles ainda são passados para nós?

- Bom... É meio complicado... Para um vampiro nobre normal, as qualidades de nobre que ele tem são passadas apenas para a primeira cria que ele faz... E a medida que que ele cria mais vampiros, o nível deles cai. Você, Gabriel, é minha primeira cria. Nós do clan Luminatti temos uma habilidade especial quanto a isso, quando nós mordemos nossas crias em uma noite de lua cheia, há um aumento no nível dela. Desse modo, se transformamos a segunda pessoa nessas condições, ela recebe os mesmos poderes da primeira de um vampiro normal, esse é seu caso, Dani... Já Gabriel é ainda mais forte do que eu... Ou, ao menos virá a ser...

Vendo a confusão nos rostos dos dois amigos, Elisabeth completou:

- Eu explicarei melhor isso para vocês quando falarmos sobre poderes vampíricos... Tem, também, nossa recuperação acelerada na luz do luar... Mas isso é assunto para outro momento...

Nenhum comentário:

Postar um comentário