segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Capítulo 6 – Uma Confissão

Hector acordou de sobressalto. Rapidamente, sentou-se na cama e olhou confuso ao seu redor, aquele não era seu quarto. Após alguns instantes, as memórias da noite anterior foram, gradualmente, voltando para sua mente. Eles haviam encontrado Isabel, finalmente, mas agora ela estava um tanto diferente. Havia se tornado uma licantropa.


Ele se lembrou do sonho que acabara de ter. Fazia mais de um ano que ele havia parado de ter sonhos. Eles haviam se reduzido após sua transformação. Aquilo o perturbou um pouco, mas não havia muito a ser feito.

O vampiro se levantou da cama, calçou seus coturnos negros e saiu de seu quarto temporário. A porta dava para um longo corredor, cujas paredes eram decoradas com várias pinturas de aparência antiga. Após alguns passos, ele encontrou uma escada em espiral a sua esquerda que descia até o primeiro piso. Lentamente, desceu a escadaria produzindo apenas um leve ruído com seus passos, que não se preocupou em esconder.

Os degraus terminavam num dos cantos da principal sala de estar da casa. Em sua primeira avaliação rápida do lugar, julgou-o vazio e avançou na direção de uma das poltronas próximas à lareira, sentando-se. Um instante após ele ter fechado os olhos, foi surpreendido por um chamado.

- Hector! Finalmente acordaste. Estava começando a ficar preocupado.

Era Guilherme, estava sentado em uma poltrono também próxima ao fogo. Ele estivera ali todo aquele tempo? Impossível, o vampiro lembrava-se claramente de ter visto aquela poltrona como estando vazia instantes atrás.

- Bom dia Guilherme. Ou melhor, boa noite.

- Boa noite meu caro amigo.

- Aonde estariam os outros?

- Isabel e Daniella saíram para um passeio por um bosque próximo. Elas tem muita conversa para por em dia, acredito eu. E Miguel foi resolver alguns assuntos pendentes de nossa família, não deve tardar para voltar com as garotas.

- Como assim saíram? Que horas são?

- Já passa da meia-noite.

Aquilo era muito estranho. Como ele havia dormido tanto assim? Aquilo, realmente, não era de seu feitiu.

- Se importa que eu lhe faça uma pergunta um tanto pessoal? – disse Guilherme.

- Sem problemas.

- Espero não estar sendo inconveniente. O que aconteceu para que tivesse um sono tão perturbado?

- O que queres dizer com sono perturbado? – perguntou Hector.

- Bom, houveram momentos durante o dia que você se sacudia violentamente na cama. E, outros que gritava como se estivesse sendo ferido.

Hector não respondeu, aquilo era algo fora do comum.

- Desculpe-me se perguntei algo que não devia...

- Não, não. Está tudo bem. Bom, digamos que tive um sonho perturbador.

- Sonho? – perguntou Guilherme, a curiosidade em sua voz era clara como água – Não sabia que vocês ainda eram capazes de sonhar...

- Eu, também, não. Mas sonhei. Sonhei com o dia em que eu e Daniella fomos transformados... e de nosso primeiro dia em nossa nova vida.

- Ah, claro. A noite em que foram atacados por Elisabeth. – Guilherme vendo a confusão no rosto de Hector, completou – Isabel nos contou uma versão resumida do ocorrido hoje mais cedo. Mas acredito que ela omitiu algumas coisas. E que elas são o motivo de seu sono agitado. Se importaria de me contar o que mais ocorreu naquele dia?

Hector hesitou, relutante se podia confiar no lobo. Ele nunca contara sobre aquilo para ninguém, nem mesmo Daniella sabia de todos os detalhes, de sua promessa. Guilherme seria mesmo confiável? Isabel parecia acreditar muito nele. Talvez aquilo fosse suficiente.

- Bom, confesso nunca ter falado sobre isso com ninguém. Nem mesmo com Daniella. – Hector parou alguns segundos para decidir o que iria falar – Digamos que Dani e eu não recebemos muito bem a notícia da transformação. Principalmente, ela que sempre teve uma ligação forte com a família.

- Claro, vocês não poderiam mais ver seus pais. Mas isso não explica muito sobre seus pesadelos.

- Acontece que... – Hector exitou por um instante – A culpa de tudo isso foi minha. Dani sofreu daquela maneira por minha causa.

- Sua?

- Sim. Naquela noite, eu tentei fazer uma declaração estupida para Daniella. Se eu não tivesse feito isso, ela provavelmente teria ido atrás de Isabel. Ou se eu tivesse tido coragem suficiente para falar tudo, nós talvez nunca teríamos visto Elisabeth caminhando ferida, nem ido em sua direção para tentar ajudá-la.

- Entendo – respondeu Guilherme ao fim da narrativa.

Após isso, houveram alguns minutos de silêncio. Hector olhava para Guilherme e esse para o chão, pensativo.

- Provavelmente, você me dirá que a culpa não foi minha. Que eu deveria esquecer isso tudo e seguir em frente – Disse o vampiro, quebrando o silêncio – Mas, após o acidente, eu fiz uma promessa. Daquele dia em diante, eu nunca mais permitiria que algo ou alguém fizesse uma pessoa importante para mim sofrer.

- Você se engana ao pensar que direi algo assim. Se você julga ser culpado do ocorrido, talvez seja. Não sou ninguém para dizer o contrário. E quanto a sua promessa. Ela é realmente bonita de se dizer. Mas você acredita mesmo que pode cumpri-la?

- Farei meu o possível para isso.

- Assim espero. – concluiu Guilherme.

Após algum tempo, eles continuaram a conversa.

- E qual seria a sua relação com Elisabeth agora? – interrogou Guilherme.

- Bom, ela foi quem cuidou de nós durante nosso primeiro ano. Nos ensinando sobre esse mundo noturno, sobre nossos poderes e fraquesas – respondeu Hector, curioso com relação à pergunta – Acredito que ela seja como uma irmã mais velha para nós. Apesar de não mantermos muito contato com ela desde nossa separação. Digamos que não estavamos interessados em uma vida sob as ordens do clã. Algum motivo especial para a pergunta?

- Não, nenhum.

Eles se olharam fixamente durante algum tempo. Até que o lobisomem quebrou a tensão, dando um sorriso e mudando de assunto.

- Não sei se você sabe, mas existe algumas semelhanças entre nossos clãs. Mais do que isso, existe uma história antiga entre eles.

Hector continuou a olhá-lo, curioso. Ele havia ouvido de Elisabeth algumas coisas sobre o clã Timide, mas nada muito detalhado. Eles também eram conhecidos como Night Stalkers por causa de sua grande habilidade durante a noite. Sempre furtivos, engenhosos e calculistas.Mas ao mesmo tempo generosos e vaidosos.

- Além do conhecimento geral, que as vezes não nos é muito gentil, nós sempre fomos apaixonados pelas artes. Por exemplo, fato que você deve ter reparado em nossa casa.

Hector apenas acenou afirmativamente com a cabeça.

- Mas outra importante paixão de nossa família está nas artes ocultas. Nosso clã, assim como o seu, tem uma relação especial com a lua. Embora um pouco diferente. Por volta do século XIV, nosso pai, um dos primeiros de nossa espécie, veio a ter quatro filhos. E, como que por uma fatalidade do destino, todos nós fomos contaminados com a peste negra antes que nossos poderes viessem a se manifestar...

Nesse instante, ambos ouviram os ruídos vindos do lado de fora da casa.

- Talvez seja melhor continuar essa história em outro momento.

- Concordo...

- E não se sinta ofendido se minhas perguntas pareceram desconfiadas ou intrometidas. Eu precisava ter certeza que poderia confiar em você. – esclareceu Guilherme.

Vendo a confusão no rosto do vampiro, ele completou:

- Não se preocupe, explicarei isso também quando a hora chegar.

Terminada essa frase, as portas se abriram e as duas garotas e o segundo lobo entraram.

- Guilherme, que história é essa de mandar o Miguel nos vigiar? – questionou Isabel.

- Nós realmente somos capazes de nos defender sozinhas! – completou Daniella.

- Mil perdões para ambas, mas eu estava apenas preocupado com a sua segurança.

- E o que, nesse mundo, seria idiota o suficiente de atacar uma vampira e uma Mannari? – disse Isabel.

Hector reparou o rápido olhar entre Guilherme e Miguel. Eles estavam escondendo alguma coisa...

- Tudo bem, tudo bem. – desculpou-se Guilherme.

Só então elas notaram a presença do vampiro sentado na poltrona.

- Hector! Você está acordado, finalmente. Eu já contei para eles sobre a noite em que nós...

-Sim, sim. Guilherme já comentou isso comigo. – interrompeu Hector.

- Ah... Espero que não se importe... – falou Daniella.

- Nem esquenta – disse Hector sorrindo.

- Gabriel... – chamou Isabel.

Hector olhou para ela. Na dúvida se devia ou não reclamar dela ter utilizado seu nome antigo. Mas antes que ele fizesse algo, Dani deu uma leve batida na amiga com o cotovelo, e essa corrigiu rapidamente.

- Digo, Hector...

- Tudo bem Isabel, pode me chamar de Gabriel se quiser.

- Hey! Eu também quero poder te chamar de Gabriel! Você sempre reclamou quando eu fazia isso! É injusto!

Os dois amigos começaram a rir, mesmo com os protestos de Daniella.

- Ok, então. Gabriel... – disse Isabel se aproximando do amigo enquanto Dani estava distraída reclamando dele para Guilherme, que parecia muito entretido com a narrativa – Eu queria falar à sós com você mais tarde. Quando puder, vá ao meu quarto e me espere lá...

- Certo...

Todos voltaram a conversar alegremente.

De repente, uma sirene de alarme começou a tocar na sala, os três amigos olharam para Guilherme e Miguel, esperando alguma explicação.

- Há alguém entrando na propriedade. Vocês estavam esperando alguém? – perguntou Guilherme olhando para Miguel e Isabel. Ambos responderam negativamente. Então, ele continuou - Preparem-se, nós vamos fazer-lhe uma recepção especial.

Os dois vampiros pegaram seus sobretudos negros. Todos os cinco saíram de dentro da casa e avançaram na direção do portão leste da propriedade, que era grande e cercada por um pequeno bosque, foi de lá que viera o alarme.

2 comentários:

  1. A não eu quero sabe a história do 4 irmãos, isso não é justo... Poxa to começando a morrer de curiosidade

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  2. Para tudo há seu tempo mati >.<
    Mas prometo que vai valer a espera *-*

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