domingo, 20 de fevereiro de 2011

Capitulo 11 – Recordações 5: Um Pequeno Massacre no Gelo

Antes do capítulo em sí, eu queria apenas avisar uma pequena mudança: O fim da parte um não mais ocorre no capítulo 10, e sim nesse capítulo.


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As árvores balançavam calmamente com a brisa noturna. Muitas delas já tinham uma forma permanentemente curvada na direção do vento, uma vez que ele soprava constantemente e sempre na mesma direção. Muitos já haviam notado essa característica daquela região, mas sempre desapareciam de forma inexplicada pouco tempo depois.


Seguindo na direção do vento, encontrava-se uma enorme lagoa, que desembocava no mar em um local distante. Sobre as águas próximas daquela região, existia uma misteriosa névoa, que tomava a forma de uma neblina cerrada à medida que se aproximava da margem.

Em meio às árvores, próximo à lagoa e a uma parede de pedra natural, semelhante a um penhasco, porém formado artificialmente, havia uma casa. Ela tinha uma união de um estilo gótico com o de uma clássica casa de campo norte americana, suas grossas paredes eram feitas de madeira trabalhada e tinham uma cor escura. Havia, entretanto, muitos detalhes da estrutura feitos de pedra, tais como a fundação e algumas das vigas de sustentação da casa. Sobre suas elegantes portas havia vitrais lembrando os de uma catedral antiga. A construção de dois andares tinha o telhado inclinado, típico de regiões de neve, do qual saía, do lado esquerdo, uma chaminé de tijolos, revelando a existência de uma lareira.

Apesar de ser verão, as pedras e a vegetação rasteira próximas da casa apresentavam uma fina camada de gelo as cobrindo, com exceção das que tiveram essa camada removida em razão da formidável batalha que ocorria ali.

Ele saltou sobre seu adversário realizando um mortal e, usando sua agilidade sobre-humana, desferiu um potente golpe com sua katana mirando o ombro de sua adversária; ela bloqueou, entretanto, o ataque cruzando seu par de sais sobre a cabeça, impedindo a lâmina de alcançar seu corpo.

-Você pode fazer melhor, Gabriel! - gritou a jovem loira que estava sentada sobre uma pedra próxima aos combatentes.

Ouvindo aquele comentário, ele sentiu um sentimento crescente de raiva invadir seu corpo, fazendo com que ele apertasse com mais força sua espada. Seu corpo atingiu o chão, ele dobrou os joelhos para amortecer o impacto e aproveitou o movimento para ganhar um impulso maior para o próximo ataque, sem dar a sua adversária uma chance de contra-atacar. Ele usou toda a força de suas pernas naquele movimento, avançando a uma velocidade incrível e a uma altura baixa, ao mesmo tempo em que invertia a empunhadura da katana, com a lâmina acompanhando seu antebraço. Enquanto a garota se virava pela direita para acompanhá-lo, ele passou por ela pela esquerda, segurando a espada na horizontal mirando a lateral de seu abdômen. Mesmo com seus apurados reflexos, ela apenas conseguiu bloquear parcialmente o golpe com uma de suas armas, deixando a lâmina escapar e atingi-la. Apesar de não ser um golpe direto, o corte causou-lhe uma ardência agoniante e arrancou-lhe um pequeno grito de dor.

- Melhor... - disse a jovem, ainda sentada.

Gabriel não conseguiu conter um sorriso triunfante por ter finalmente atingido sua adversária, após tantas tentativas. A garota se virou, sua face transtornada pela dor por um momento, mas rapidamente ela adotou uma expressão serena, parecendo concentrar-se em algo enquanto cruzava o par de sais a sua frente.

- Mas talvez não o suficiente... – continuou a loira, com um leve tom de sarcasmo.

Sem entender o comentário por um momento, Gabriel voltou seus olhos para a garota a sua frente e reparou algo que lhe tirou o sorriso presunçoso. Com uma velocidade descomunal, ele viu os dois lados do corte que ele fizera por toda a lateral do tronco dela unirem-se novamente, contendo completamente o sangramento, reconstituindo a musculatura atingida e depois regenerando completamente a pele onde o golpe ocorrera.

A jovem olhou para ele então, devolvendo por um momento o sorriso presunçoso e tirando proveito do momento de surpresa de seu adversário para efetuar o seu ataque. Ao mesmo tempo em que avançava na direção dele, ela lançou ambas suas armas no chão abaixo do seu oponente, cravando uma em cada um de seus pés e prendendo-os no chão. Antes de atingir seu adversário, que agora urrava de dor, a garota sacou da lateral de suas pernas um segundo par de sais.

Passada a surpresa e a dor inicial, ele ergueu sua espada para frente, entretanto, sua oponente previra aquele movimento e já havia bolado o melhor golpe. Ela trouxe de baixo uma de suas armas, cravando sua ponta maior no antebraço de Gabriel e em seguida, aproveitando o momento do movimento de ambos, ela ergueu o máximo possível seus braços, deixando tanto o seu peito quanto o de seu adversário expostos.

Usando aquela abertura, Daniella cravou seu sai no topo do abdômen de Gabriel, indo na direção de seu coração. Para sua surpresa, ele também previra aquele último movimento e já aguardava a dor do golpe. Sem hesitar com a crescente ardência em seu estômago, que rapidamente tomava o interior de seu peito, ele fez um giro com seu pulso direito, onde segurava a espada, fazendo com que ela passasse para as costas de sua adversária, prendendo ela ali. Em seguida, Gabriel trouxe para trás seu punho esquerdo, tomando impulso, e desferiu um potente golpe na lateral desprotegida do tronco de Dani, quebrando-lhe no mínimo quatro costelas. A vampira urrou de dor e cravou mais ambas as armas, girando-as nos ferimentos. Em meio a gritos de agonia, ele desferiu um segundo golpe no mesmo local, dessa vez continuando o ataque em um corte com suas garras, que foi até a metade da barriga de Daniella.

Uma enorme quantidade de sangue escorria de ambos os combatentes, o que fazia com que ambos perdessem a razão e começassem a entrar em um estado de frenesi. Se ninguém os impedisse naquele momento, eles continuariam aquela batalha até que ambos estivessem em um estado extremamente próximo da aniquilação completa. Elisabeth sabia disso e não pretendia deixar que essa estupidez acontecesse, principalmente sendo ela a responsável pela batalha.

- Parem agora! – gritou a vampira, mas o comando foi ignorado – Eu mandei parar, seus idiotas!

Vendo que eles já haviam perdido a razão e continuariam aquela batalha até a morte, ela se viu obrigada a interferir de forma drástica. Ela ergueu ambas as mãos, cada uma apontada para um dos jovens, e invocou seu poder único. Em segundos todo o ar em um raio de cinquenta metros tornou-se extremamente frio e de seus dedos saíram linhas brancas de ar que, ao atingir os corpos dos vampiros, deram origem a uma grossa camada de gelo que velozmente começou a cobrir os combatentes, que mal tiveram de virar seus rostos surpresos para Elisabeth antes de terem seus corpos, até a altura de seus rostos, completamente presos em uma espécie de esquife de gelo.

- Eu mandei parar! - urrou Elisabeth.

Seus olhos agora brilhavam vermelhos e seus longos caninos estavam à mostra em uma expressão de raiva. Seus cabelos loiros agora estavam erguidos por um forte vento ascendente que surgiu ao redor da vampira, tornando-a ainda mais assustadora. Ambos os jovens vampiros se encolheram o máximo possível em suas pequenas prisões de gelo, sentindo um enorme medo perante aquela demonstração de poder muito superior ao seu. Eles sentiam ao mesmo tempo vontade de cair de joelhos e de sair correndo o mais rápido possível dali.

Vendo a reação de medo dos dois amigos, Elisabeth imediatamente suprimiu seus poderes, cortando a crescente corrente de ar que a rodeava e permitindo que a temperatura ambiente subisse novamente. Ela se aproximou dos jovens que agora já haviam voltado a si.

- Vocês já treinaram o bastante, não acham? – disse ela, se aproximando deles – Vamos encerrar por hoje, vocês perderam muito sangue e vão precisar se alimentar antes de lutarem novamente.

Dizendo isso, ela apontou as mãos para eles novamente, mas dessa vez o gelo começou a derreter, libertando-os. Ambos caíram no chão devido aos ferimentos da batalha.

- O que acham de mais uma história?

Como os dois vampiros haviam recebido severos danos na região do diafragma e dos pulmões, eles preferiram apenas acenar positivamente com a cabeça. Com alguma dificuldade, eles sentaram-se de costas um para o outro, dividindo o peso de seus corpos e usando as costas um do outro como apoio, ao mesmo tempo em que continuavam olhando para Elisabeth.

- Então, há algo em especial que queiram saber?

- Aquela... Noite... – murmurou Gabriel, ofegante – O que... Havia... Acontecido com... Você?

Elisabeth encarou-o por alguns instantes. Ela sabia que eles perguntariam aquilo alguma hora, ainda assim, aquela não era uma história que ela gostava de contar.

- Está bem. No começo daquela noite, eu havia recebido uma carta manuscrita do próprio líder da família. Ela dava instruções sobre uma missão de enorme importância que ocorreria naquele mesmo dia. Estava escrito o ponto de encontro, o horário exato de chegada, os integrantes e suas funções básicas no grupo, o local onde seria realizada a missão e uma informação vaga sobre os inimigos serem mannari...

Elisabeth releu a carta, olhou a parte de trás da folha e não encontrou nada sobre qual era o objetivo da missão. Aquilo estava muito estranho, mas ela, como segunda no comando da missão, não poderia faltar ou se atrasar, e ela tinha pouco mais de uma hora até o encontro do grupo.

 


Rapidamente, ela vestiu uma de suas roupas de batalha: uma calça negra de couro, um par de botas de cano longo, uma blusa de linho branco de mangas compridas e um corpete negro sobre a blusa. Sem perder tempo, pegou suas duas pistolas Kel-Tec PLR-16, munição normal e de prata e sua arma favorita, um bastão de metal de 1,70m. Ela guardou as duas armas nos coldres e prendeu o bastão nas costas.


A vampira ainda tinha 45 minutos até o horário marcado. Sem perder tempo, ela saiu para as ruas, procurando uma vítima pelo trajeto, pois seria muita imprudência ir a uma missão sem se alimentar antes. Felizmente, ela avistou um garoto de aproximadamente 19 anos andando sozinho na rua. Ele tinha a pele mulata, um cabelo curto e andava querendo parecer malandro e perigoso. Quando notou que ela se aproximava, o jovem colocou na cabeça o chapéu que trazia na mão e começou a andar de um jeito ainda mais patético.


- E aí, gatinha? – disse ele com uma voz enrolada, como se tivesse a língua grande demais para a própria boca – Eu tava indo pruma festa, mas que tu acha de ir comigo lá pra minha casa e nós fazermos uma festinha só nós dois? – continuou ele, gesticulando de uma maneira que chegava a ser cômica.


Elisabeth continuou caminhando na direção do jovem, sem dar atenção ao que ele falava. Quando ela alcançou o garoto, desviou dos braços que ele ainda mantinha para frente e colou seu corpo ao dele, aproximando o rosto de seu pescoço e ouvido.


- Peraí, mina – disse ele, com a voz passando uma mistura de surpresa, euforia e ainda tentando parecer malandro – Tu é bem atiradinha, né não?


Aquele idiota arrogante já estava irritando a vampira. Lentamente ela levou a mão, por cima das roupas, até o órgão genital do garoto, que tremeu levemente quando notou o toque.


-Woow. – continuou ele – Me curtiu tanto que num guenta nem esperar até chegar lá em casa?!


Estava na hora de acabar com aquela brincadeira idiota.


- É tão difícil assim falar corretamente? – sussurrou Elisabeth no ouvido do rapaz – Apesar de que agora já é tarde demais, seu imbecil arrogante.


Assim que terminou a frase, a vampira apertou os testículos do jovem com toda a sua força, sentindo alguns tecidos cederem com a pressão e se partirem em seus dedos. O garoto jogou a cabeça para trás e tentou urrar devido à dor descomunal que sentia, mas seu grito foi abafado pela outra mão de Elisabeth. Aproveitando a posição da cabeça e do pescoço de sua vítima, a vampira cravou seus dentes da melhor maneira possível para se alimentar. Em instantes, ela sentiu sua boca inundar-se daquele líquido celestial. As sensações trazidas por aquele gosto e por aquele cheiro botaram a jovem em um estado de euforia que não terminou até que ela tivesse bebido cada gota de sangue do corpo de sua vítima.


Sem perder mais tempo, ela se livrou do corpo compactando-o de forma que ele ficasse irreconhecível, o jogou em uma lata de lixo e começou a se dirigir para o local marcado.


O encontro do grupo era no centro do Parcão, que àquela altura da noite estava deserto, tirando algumas pessoas com hábitos fora do comum. Elisabeth chegou menos de um minuto antes do momento combinado, encontrando lá os outros quatro membros.


- Elisabeth, já faz um tempo que não nos vemos. – disse um homem com a aparência de quarenta anos, vestindo uma calça jeans e uma camisa de linho aberta até a metade do peito – Espero que tenha se alimentado no caminho.


- Naturalmente que sim, Issac. – respondeu a vampira – Espero que você, como líder do grupo, sabia qual o nosso objetivo, não?


- Tudo no seu momento, minha querida. Vamos às apresentações?


Todos consentiram.


- Sou Isaac Illuminati, homem de confiança de nosso comando e atual líder desse grupo. Ah, sim, vampiro nobre.


- Damathor – apresentou-se um vampiro negro, alto e extremamente musculoso – Comandante de Batalha. Nível médio.


- Henrique – continuou um vampiro loiro e energético, obviamente hiperativo quando humano – Bucha de canhão, ou lutador, o que preferirem. Nível baixo.


- Stevan – disse um outro vampiro loiro – irmão desse idiota, e mesma posição hierárquica. Nível baixo.


Todos olharam para Elisabeth, esperando que ela se apresentasse.


- Elisabeth Illuminati. Segunda no comando dessa operação. Vampira nobre.


- Terminadas as apresentações, podemos ir? O local é longe e temos de chegar lá logo.


Todos seguiram Isaac até o estacionamento do parque. Lá, entraram num carro esporte negro e saíram do lugar cantando pneu. Como tinha reflexos sobrenaturais, o vampiro dirigia o tempo todo com o pé no fundo do acelerador, cantando pneu a cada curva que fazia. Já era quase meia noite e a missão era em um local afastado, próximo à cidade de Viamão. Com a pequena corrida feita pelo líder do grupo, eles chegaram nas proximidades do lugar em aproximadamente meia hora de viagem. Para não alertarem os inimigos de sua presença, deixaram o carro em um lugar afastado, coberto pela vegetação, e seguiram o resto do caminho a pé.


- Pode dizer nosso objetivo agora, Isaac?


- Bom, basicamente, devemos procurar e trazer conosco um caixão, esquife, ou até mesmo uma Dama de Ferro, que tenha encravada uma lua cheia. Se virem algo semelhante, me avisem e eu direi se é o que procuramos.


- E quanto aos licântropos?


- Não há necessidade de entrarmos em batalha com eles, mas se for preciso, matem-nos.


Dito isso, todos seguiram adiante, os novatos na frente, seguidos por Damathor e depois pelos líderes do grupo. Todos caminhavam furtivamente, abaixados. Algumas árvores começaram a surgir no terreno à medida que se aproximavam do destino, apesar de ainda não poderem ver a casa.


Ao se aproximarem de um trio de árvores, Elisabeth teve uma sensação estranha, mas, antes que ela pudesse alertar os outros, duas formas negras saltaram ao mesmo tempo sobre o grupo, o mais à frente sobre Stevan e o outro sobre Isaac. Ambos caíram executando o mesmo movimento: ainda durante a queda, precisamente sobre os alvos, as criaturas, que a vampira identificou como sendo lobisomens, desciam com as pernas atrás de suas vítimas, enquanto os braços ficavam na frente, e, antes de atingirem o solo, os licântropos cravavam as garras profundamente no peito de suas vítimas, prendendo-as. Para encerrar rapidamente o combate em um único golpe, os inimigos abaixavam a cabeça, pondo dentro de suas bocas o crânio de seus alvos e desferiam uma mordida fatal, decapitando as vítimas.


A vampira ficou surpresa ao ver com que facilidade o primeiro no comando caíra, apesar de não haver muito que fazer em resposta àquele ataque surpresa. “O primeiro no comando caiu no primeiro ataque” pensou ironicamente Elisabeth, que depois notou o fato de ela ser a segunda no comando.


Ela não teve muito tempo para pensar naquilo, pois em seguida ouviu um balançar nos galhos acima de sua cabeça. Rapidamente, ela saltou para trás, instantes antes de um terceiro lobo cair das árvores exatamente onde ela estava.


A criatura a sua frente era muito maior que ela, tinha mais de dois metros de altura, ombros largos e um corpo extremamente musculoso coberto por longos pêlos negros. Elisabeth não entendeu o porquê dele ter saltado depois dos companheiros. Se tivesse efetuado o movimento antes, teria pegado a vampira de surpresa e ela provavelmente já estaria morta. Sem desperdiçar a chance de combate justo oferecida acidentalmente pelo inimigo, a vampira desprendeu de suas costas seu bastão metálico e entrou em combate corpo a corpo.


Mesmo com sua agilidade e força sobrenatural, a vampira estava em desvantagem contra aquele monstro. Após alguns segundos de batalha, ela não tivera nem mesmo uma chance de contra-atacar, precisando defender-se continuamente dos ataques poderosos das garras do lobo. Ela precisava tomar alguma atitude rápido, ou então não teria tempo de ajudar os companheiros que ainda não haviam caído e agora enfrentavam os outros dois inimigos. Se ela não mudasse a trajetória daquela luta, nem mesmo ela tinha certeza se sairia dali com vida.


O licântropo desferia uma sequência de golpes ritmados e de certa forma previsíveis, um golpe pela esquerda, um por cima, diagonal esquerda, diagonal direita vinda de cima e depois repetia a sequência, com uma variação ou outra. Notando que ela não precisaria de grande concentração para efetuar aquelas defesas, Elisabeth resolveu se arriscar. Se o lobo quebrasse o ritmo repentinamente, ela estaria perdida. Aquilo era uma aposta na possível inexperiência do inimigo. Ela não gostava de subestimar seus oponentes, mas não havia muito que fazer naquela situação. Sem interromper as defesas cadenciadas, a vampira começou a libertar seus poderes, momentaneamente perdendo a concentração na batalha. Se seu oponente fosse qualquer um dos outros dois lobisomens, esse movimento poderia ter sido fatal, entretanto, ela estava enfrentando o membro mais inexperiente do grupo, com menos de dois anos de vida sobrenatural. Aquela era talvez uma noite de sorte para a jovem, apesar de ela não achar isso de todo.


Rapidamente, a atmosfera ao redor de Elisabeth começou a tornar-se cada vez mais fria, atingindo temperaturas negativas após meros trinta segundos. A grossa pelagem dos licântropos os protegia do ar frio, mas esse seria o menor dos problemas do oponente da vampira. O jovem lobo começou a notar que sempre que um de seus ataques era bloqueado pelo bastão de metal, a temperatura de sua mão, e posteriormente do seu braço diminuía. Não demorou muito para que a velocidade de seus movimentos começasse a diminuir. Notando que sua estratégia surtira efeito, a vampira começou o verdadeiro contra-ataque. Ela concentrou-se ainda mais em sua arma, fazendo com que uma fina camada de gelo começasse a surgir nas extremidades, gradualmente aumentando.


Agora que o ritmo dos ataques reduzira consideravelmente, Elisabeth começou a desferir rápidos ataques nas pernas e no tronco do lobisomem, próximo aos braços. Cada golpe criava imediatamente uma leve camada de gelo na região, que aumentava a cada golpe desferido no local. Não demorou muito para que uma grossa camada de gelo cobrisse as pernas da criatura e uma camada menor, que fora continuamente removida pelo movimento dos ataques até que os músculos começassem a sofrer os efeitos do congelamento, cobria a região lateral do tronco e os ombros do lobo, prendendo seus movimentos. Quando o jovem licântropo notou que a dormência que ele sentia nas pernas era, na realidade, efeito da camada de gelo que ele nem mesmo sentia sobre a sua pele, já era tarde demais.


Elisabeth afastou-se um pouco do oponente paralisado e fechou os olhos por alguns segundos. Quando ela os abriu, havia neles um leve brilho azulado opaco. As extremidades de sua arma foram cobertas por uma grossa camada de gelo, fazendo que as pontas do bastão lembrassem uma espécie de clava de gelo.


- Eisege Tod – disse a vampira, com uma voz profunda e serena.


Ela avançou na direção do lobo e começou a desferir uma sequência de golpes a uma velocidade absurda, usando ao máximo sua velocidade vampírica, de modo que seus braços e sua arma se tornassem um borrão branco. A cada golpe desferido, uma grande camada de gelo se depositava sobre o corpo do licântropo. Após três segundos, seu corpo todo tinha uma cobertura de gelo. Após dez segundos, um esquife de gelo havia se formado ao redor do lobo, prendendo-o completamente.


- Brechen.


A vampira saltou a mais de três metros do chão e caiu desferindo um golpe direto com as duas mãos no topo do esquife. Devido a sua força sobrenatural e ao estado frágil do gelo e do corpo já completamente congelado em seu interior, o bastão quebrou completamente a pedra de gelo e o corpo congelado do licântropo. Inúmeros fragmentos de gelo e carne congelada voaram para todos os lados.


Elisabeth levantou-se do chão após desferir o golpe final e olhou para onde seus companheiros deveriam estar lutando. A cena que ela encontrou, entretanto, foram os dois corpos dos que caíram com o ataque surpresa, um corpo mutilado mais a frente do grupo, que provavelmente era o que sobrara de Henrique, e Damathor extremamente ferido sendo segurado em uma das mãos de um dos lobisomens que encaravam a vampira furiosamente. Ela reparou duas coisas um tanto curiosas: o lobisomem de pêlo negro e mais musculoso, que havia caído sobre Stevan, tivera uma mudança em sua aparência, tornando-se mais selvagem, mas a maior mudança estava em seu olhar, agora banhado em uma chama de insanidade, que aumentara ainda mais ao ver ela derrotar seu companheiro; já o lobisomem de pêlo cor de cinzas e corpo mais esguio sofrera uma mudança completamente oposta, suas feições agora demonstrando grande serenidade calculista e seus olhos apresentando um brilho de astúcia enorme.


Após alguns segundos encarando Elisabeth, o lobisomem negro segurou o corpo de Damathor com uma mão e sua cabeça com a outra. Com um movimento rápido, como se fazer aquilo não exigisse muita força de seus músculos, ele separou a cabeça, juntamente da coluna vertebral, do resto do corpo do vampiro. Uma quantidade absurda de sangue negro e vermelho (provindo das vítimas mais recentes do apetite de sangue de Damathor) jorrou por todo o chão ao redor do corpo. Para encerrar o movimento, a criatura esmagou com as mandíbulas o crânio do vampiro negro, dando um fim definitivo a sua existência.


Agora a vampira estava sozinha contra aqueles dois monstros. Não foi preciso muita reflexão para concluir que ela só sairia viva dali se fugisse o mais rápido possível. Antes que os lobos tomassem o primeiro movimento, a vampira invocou ao máximo seu poder. Ela concentrou-se numa linha imaginária no chão a um terço do caminho entre ela e os licântropos. Por um segundo ela fechou os olhos e depois os abriu estendendo rapidamente as mãos para frente, apontando para a linha imaginária. Vendo o movimento repentino da vampira, o lobisomem negro começou sua investida.


- Eiswand!!!


Uma parede de gelo com no mínimo trinta centímetros de espessura se materializou no local onde Elisabeth apontara com as mãos, juntamente com uma grossa névoa que começou a cobrir o chão até a altura de seus joelhos. O lobo que já estava em grande velocidade não teve tempo de parar e bateu pesadamente contra a parede, deixando uma rachadura e uma mancha de sangue. Ele rapidamente se recompôs, tomou distância e começou a flexionar as pernas. A vampira entendeu o que ele pretendia e começou a se virar para correr, mas já era tarde. O lobo negro se jogou com toda a sua força contra a parede, colidindo com o ombro. Logo atrás dele vinha o segundo lobisomem, correndo como se não houvesse parede. Quando o pesado corpo da criatura colidiu com o gelo já rachado, a pequena muralha da vampira se despedaçou e, em meio aos escombros que caiam, surgiu o licântropo cinza, correndo já a grande velocidade. Elisabeth até tentou correr mais rápido e escapar, mas não conseguiu chegar nem perto disso. O inimigo saltou sobre a vampira, desferindo dois golpes simultâneos com as garras em suas costas, criando quatro profundos cortes com formato de “x”, e depois continuou o salto por cima do corpo da vampira, que caíra no chão com o golpe, parando 2 metros a sua frente enquanto seu companheiro se levantava e os alcançava.


Após um segundo tentando superar a dor agonizante que sentia nas costas, Elisabeth se levantou. Eles a haviam cercado, não havia modo fácil de ela sair. Os dois lobos trocaram um olhar e ambos investiram ao mesmo tempo na direção da vampira. Ela tentou desviar dos golpes simultâneos, mas um deles a acertou, abrindo um corte através de seu ombro direito. Após atacarem, os licântropos voltaram para os mesmos lugares, apenas invertendo as posições.


Elisabeth não sabia quantos golpes daquele ela suportaria antes de cair junto aos seus companheiros mortos. Ela ainda tinha uma última cartada para fugir, mas se ela também não funcionasse... Ela estaria perdida...


A vampira concentrou mais uma vez todo o seu poder, focando-se na névoa e na imagem de um espelho. Ela estendeu os braços a sua frente, cruzando-os na altura dos cotovelos, e gritou com todas as suas forças o nome de sua ultima esperança de sobrevivência.


- NEBLIGEN SPIEGEL!!!!!!!!!


Ao verem que sua oponente estava utilizando suas habilidades mais uma vez, os dois lobisomens investiram simultaneamente contra ela, sendo interrompidos, entretanto, por uma forte rajada de vento frio e de uma neblina extremamente espessa. Ambos pararam por um momento e tiveram uma visão momentânea da posição da vampira, logo entre eles. Eles avançaram, usando novamente uma sincronia extrema no golpe. Entretanto, as duas criaturas tiveram uma enorme surpresa. Ao atingirem seu alvo, descobriram que não passava de uma imagem refletida em uma fina lâmina de gelo que se quebrou facilmente com os golpes que continuaram, fazendo com que acertassem um ao outro na altura das pernas com uma enorme força. Os dois lobos urraram de raiva e dor e urraram novamente quando mais de dez imagens apareceram simultaneamente, correndo e se movendo para direções diferentes. Eles haviam perdido seu alvo...




- Depois disso, eu corri o máximo que pude, tentei despistá-los pelo centro da cidade e acabei no Parque Farroupilha... O resto vocês já sabem...

Os três vampiros ficaram em silêncio por algum tempo. Os ferimentos de Gabriel e Daniella já estavam praticamente cicatrizados após toda a narrativa. Passados mais alguns minutos, Daniella quebrou o silêncio.

- E depois você descobriu mais alguma coisa sobre aquele ataque? Os motivos? Quem eram os inimigos?

Elisabeth olhou para ela por algum tempo e depois balançou negativamente a cabeça, desanimada.

- Não descobri praticamente nada – respondeu a vampira, olhando para os próprios pés – A única informação que consegui foi o nome do clan ao qual os lobisomens pertenciam...

- E qual era? –perguntou Gabriel, finalmente participando da conversa.

- Eles pertenciam ao clan Timide... O companheiro deles que eu matei era Leonardo Timide, um garoto que eles haviam transformado acidentalmente e estavam treinando...

- E quanto aos dois que sobreviveram? Você sabe quem são?

- Só sei seus nomes... Guilherme Timide... E Miguel Timide...





.*          Fim da Parte I          *.

Combo Selos

Bom, acabei deixando acumular e agora tenho um pequeno combo de selos (isso se eu não deixei algum passar ^^). Com relação aos questionários sobre o autor que acompanham os selos... Não foi muita coisa que mudou desde o último, e o mesmo vale para as pessoas para quem eu mando o selo. Se eu receber mais um eu cumpro com as exigências, mas dessa vez fico devendo.