sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Capítulo 3 – O Clan Timide

- Isa...bel? – repetiu a pergunta – É você mesmo?


A resposta para essa pergunta veio no enorme abraço que a garota deu em Hector. O abraço da garota era quente, um pouco quente demais, mas isso apenas aumentava o significado dele. Em seguida, outro abraço envolveu a garota. Era Daniella. Pela expressão em sua face, ela parecia que iria... Foi então que ele notou um filete de um líquido preto escorrendo de cada um dos olhos de sua amiga. Ele sabia o que eram aquelas “lágrimas”. Aquilo era sangue. Sua amiga não chorava daquela maneira fazia dois anos... Mas isso não interessava agora.

Ele fez um gesto para Dani dizendo para que ela limpasse as “lágrimas” antes que aquilo assustasse sua amiga.

- Isa...bel... – Disse Daniella em meio a alguns soluços – Você está... bem, finalmente...

- Digo o mesmo para vocês! Onde vocês estavam? O que aconteceu com vocês? Como vocês viraram... bom, vocês entenderam... O que houve naquela noite?

- Hey! Eu que ía te perguntar isso! As únicas notícias que tivemos de você depois daquela noite foi o que lemos nos jornais, o que não ajudou muito.

- Eu também...

- Ahn, com licença – Disse um homem vestindo uma calça jeans escura, uma regata branca e um blazer com uma cruz branca nas costas, se aproximando dos amigos – Esse momento é muito bonito e tudo mais, mas acho mais prudente continuá-lo em outro lugar. Em nossa casa, talvez? – disse, olhando para Isabel e depois para um outro homem, este usando apenas um jeans azul e uma regata preta – De acordo Miguel ?

- Claro, meu irmão.

Então Hector entendeu, aqueles eram os outros lobos! Mas quando eles haviam se transformado? E eles trocaram de roupa, sem que ele notasse...

Vendo a expressão dele, o primeiro deles se apressou em responder:

- Perdoe a minha falta de educação. Não me apresentei corretamente. Me chamo Guilherme Timide, e esse é meu irmão, Miguel Timide. É um prazer imenso conhecê-los. – disse, fazendo uma leve reverência.

Hector reconheceu aqueles nomes, mas aquela briga não era sua e era melhor deixar de lado.

- Me chamo Hector Illuminati, e essa é minha irmã de sangue, Daniella Illuminati – respondeu Hector, fazendo o mesmo.

Tanto ele quanto Dani não deixaram passar a rápida expressão que passou pelo rosto do licantropo. Parecia uma mistura de raiva antiga com curiosidade e espanto.

- Bom, Hector e Daniella, se puderem nos acompanhar...

- Com todo o prazer.

Todos então seguiram caminhando para fora do parque, parando antes para que Isabel pudesse vestir suas roupas. Daniella e Isabel ficaram conversando sobre como sentiam saudades uma da outra, ansiosas para chegar na casa. Hector andava ao lado de Miguel, apenas analisando os dois irmãos.

Chegando ao calçamento, Guilherme se virou para todos.

- Bom, daqui em diante vocês se importam de acelerarmos o passo? Se não, demoraremos a noite toda.

- Por nós, tudo bem. Acredito que podemos acompanhar vocês, mesmo transformados...

- Esse é o detalhe, não pretendemos nos transformar novamente. Veja bem, eu e Miguel já temos o controle necessário sobre nossos poderes para que possamos ampliar nossa velocidade, mas Isabel ainda não. Algum de vocês se importa de carrega-la durante a viagem? – vendo a reação de constrangimento de Isabel, ele adicionou – Dani, talvez?

- Isso será um problema... não acho que manteria a mesma velocidade de vocês carregando ela, que parece ter ganho um pouco de massa corporal – disse rindo – já Hector, eu acredito que poderia. Digamos que ele ganhou os músculos, e eu, o cérebro...

Todos riram, menos Isabel, que previa a situação em que estaria.

- Não esquenta, eu não mordo... – disse ele rindo, mostrando propositalmente sua presas – a menos que você deixe...

- Vai sonhando, morceguinho. Me morde que eu mordo de volta.

- Sim, senhora.

Ele pegou a amiga nos braços, fazendo questão de olhar em seus olhos. Ela realmente estava linda, e aquela situação era um tanto interessante...

- Estou de olho nas suas mãos, senhor engraçadinho.

- E eu em você – provocou o vampiro em meio a gargalhadas, enquanto Isabel ficava vermelha novamente.

Depois disso, todos seguiram em uma corrida. Primeiro no chão, depois pelos telhados dos prédios, em direção à zona norte da cidade.




Alguns minutos mais tarde, eles chegaram à casa dos irmãos. Ela era grande, localizada em meio a muitas arvores, isolada, nos limites do subúrbio da cidade. A construção era de um estilo clássico vitoriano, com um telhado que se erguia na forma de um “V” invertido. Tinha janelas grandes de madeira escura, assim como o resto da casa.

- É realmente bonita.

- Obrigado. Esse é um dos benefícios de uma vida longa. – respondeu Guilherme, cordial como sempre.

Hector ficou mais alguns segundos admirando a casa quando foi tirado de seus pensamentos por Isabel.

- Já pode me soltar agora, sabia?

Ele havia esquecido completamente que ainda estava segurando a garota em seus braços.

- Ah, Bel... Mas eu passei dois anos sonhando com esse momento... Deixa só mais um pouquinho, vai... Prometo que você não vai se arrepender.

- Ha ha ha. Não teve graça. Agora me solta antes que eu resolva esse problema sozinha e sote seus braços de você.

- Ai, que garota perigosa! – disse ele, soltando a amiga.

- Sou mesmo, cuidado hein?

- Sabe... Cão que ladra, não morde.

- Ooolha... Que arriscar?

Ambos começaram a tomar posições de luta quando Daniella os interrompeu, mandando que parassem com aquela palhaçada. Depois disso, os três começaram a rir. Como era bom estarem todos juntos novamente.

- Espere até ver meu quarto, Dani!

- Woooow! Tu mora com eles?!

- Claro que sim, né! – respondeu Isabel, achando aquilo óbvio – Ãfinal, eles são minha família agora.

- Certo, certo...

Entrando, viram que a casa era ainda mais impressionante por dentro. Vários móveis estavam espalhados de uma forma casual, mas que mantinha uma perfeita harmonia. Hector sentiu um pouco de vergonha de sua “casa”. Depois daquela noite, ele iria trabalhar um pouco melhor em sua moradia. Talvez chamar Daniella para morar junto a ele, como uma família... Aquilo ajudaria com os custos, pelo menos. Depois ele iria falar sobre aquilo com ela, que provavelmente estava sentindo o mesmo com relação ao seu esconderijo.

- Bom, vamos até a sala de estar inferior. Acredito que seja o lugar mais confortável para continuar aquela conversa a tanto esperada.

- Quantas seriam as salas da casa? – perguntou Hector, curioso – Ou melhor, quantos seriam os aposentos?

- Uma cozinha, duas copas, seis quartos, quatro salas de estar, duas de jantar, duas salas de jogos, uma no sótão e outra no porão juntamente com a sala para onde vamos, cinco banheiros, uma adega, uma biblioteca, três escritórios...

- Três? Até Isabel tem um?

- Na realidade, não... É uma longa história, longa demais para essa noite. Falaremos de nosso passado em outra oportunidade, talvez. – respondeu educadamente Guilherme.

- Perdoe-me a intromissão, não era a minha intenção.

- De maneira alguma. Vamos, acompanhem-me.

- É realmente uma casa impressionante, se me permite o comentário. Todos vocês são impressionantes. Adoraria ouvir suas histórias em outro momento.

- Muito obrigado pelo elogio. Será um enorme prazer contar-lhe algumas desventuras de meu passado.

Eles desceram por algumas escadas e entraram em uma sala de iluminação fraca, vinda de uma lareira no meio de uma parede. Várias poltronas antigas se encontravam em volta do fogo. Aquilo parecia saído diretamente de algum filme antigo. Eles se sentaram, cada um em uma poltrona, e um silêncio se instaurou no cômodo, sendo quebrado apenas pelos estalos da madeira em chamas na lareira.

- Então, quem de nós começará a contar sua história primeiro?

- Acho que eu farei isso – respondeu Isabel – se vocês não se importarem...

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