sábado, 7 de agosto de 2010

Capítulo 2 – Recordações 1: O Começo de Tudo

Os três amigos desceram do ônibus no Parque da Redenção. Já havia anoitecido, mas nenhum deles deu muita importância para isso. Aquele era um dia especial, pois a lista dos aprovados da UFRGS havia saído naquela manhã, e todos haviam sido aprovados. Aquele era um dia de comemoração.


- Não acredito que estamos prestes a entrar na faculdade...

- Verdade... Parece que foi ontem que nós estávamos no primeiro ano, saindo juntos pela primeira vez...

- Tanta coisa aconteceu. Uma mais engraçada que a outra.

- Lembra aquela vez nós quase quebramos o dedo da Dani de tanto pisar “sem-querer” no pé dela?

- Ha-Ha-Ha. Muito engraçado aquilo. Vou pisar na tua cabeça da próxima vez.

- Calma, calma. Não precisa brigar.

- Teve aquela vez que veio todo o pessoal com o violão pra Redenção... Aquilo sim foi tri.

- É... Foram tantas coisas até agora... Eu realmente adoro vocês.

- Bem que esses dias podiam nunca acabar, né?

- Ai, que amor!

- Me deixa, tá...?

- Mas... Agora a gente não vai mais se ver todo dia... Talvez nem todo mês...

Um silêncio seguiu aquele comentário. Nenhum dos amigos queria pensar muito naquele assunto. Já fora ruim quando apenas Isabel saíra do colégio no ano anterior. Agora, sabe-se lá quando eles iriam sair de novo.

- Mas, então...Para a casa da Dani! – gritou Gabriel, quebrando o silêncio e sendo rapidamente repreendido por Daniella.

- A gente está na Redenção, caramba. Não começa a chamar atenção.

Eles continuaram andando na direção da Av. João Pessoa.

- Gente... Preciso ir ao banheiro...

- Tem de ser agora, Isabel?

-Sim, né! Se não, eu não falaria. Mas é rapidinho. Me esperem aqui embaixo do Monumento do Expedicionário. Já já eu volto, vocês não vão nem sentir minha falta.

- Disso eu sei...

- Eu ouvi isso!!

- Isso o quê...?

Quando ela saiu, um certo nervosismo surgiu em Gabriel. Aquela podia ser sua melhor chance de fazer aquilo, e ele não pretendia desperdiça-la.

- Dani.. – começou – eu queria fala uma coisa contigo... Antes que a Isabel volte.

- Diga... – disse ela, tentando imaginar de que se tratava. Ao notar a leve vermelhidão no rosto dele, seu rosto também enrubesceu. Será que...?

- Bom... Eu queria te falar que...

- Que...?

- Já tem um tempo que... Como eu posso dizer isso...

- Fala de uma vez!

- Tá bom, tá bom. Acontece que...

Mas antes que ele pudesse terminar, ele foi interrompido pelo grito de Daniella. Ela olhava para as costas dele com uma expressão de pavor. Quando Gabriel se virou, ele também ficou aterrorizado. Uma mulher loira vestida de branco vinha caminhando com dificuldade, coberta de sangue. Ela estava gravemente ferida e precisava de ajuda.

Os dois correram rapidamente em sua direção para ajudá-la...





Elisabeth corria o mais rápido que podia, utilizando ao máximo sua velocidade sobrenatural, porém sues ferimentos eram muito graves e ela não tinha certeza se conseguiria fugir por muito tempo.

Ela olhava frequentemente por cima de seus ombros, para ter certeza de que havia se distanciado de seus perseguidores. Eles deviam estar quilômetros atrás dela, mas ela sabia que era uma questão de tempo até ela não poder mais correr e eles a alcançarem. Ela precisava urgentemente se alimentar.

Após cruzar quase todo o Parque da Redenção, seus músculos não aguentaram mais. Ela foi obrigada a parar sua corrida e continuar caminhando. Aquele era seu fim. Então, como que por obra do destino, ela avistou um casal jovem vindo em sua direção com rostos preocupados. Ela não queria fazer aquilo, mas não era hora para compaixão.

Quando eles se aproximaram, ela fingiu cair exausta ao chão, planejando pegá-los desprevenidos. Ela esperou até que ambos estivessem ajoelhados ao seu lado para então começar seu ataque. Em uma fração de segundo ela segurou o pescoço da garota e mordeu o pescoço do rapaz, sorvendo seu sangue o mais rápido possível. Após terminar com ele, se voltou para a jovem, que se debatia inutilmente, e repetiu o processo. No primeiro momento ela só podia sentir o alívio de ter seus ferimentos curados em segundos, mas então ela reparou no olhar do jovem para a garota sangrando ao seu lado e nos restos do que antes foram pétalas em sua mão esquerda.

Seu corpo congelou no momento em que ela entendeu o que havia interrompido. Um forte sentimento de tristeza e nostalgia encheu seu corpo. Ela não podia voltar atrás agora e só havia uma opção.

Ela mordeu seu pulso, deixando um grosso filete de sangue negro escorrer e pôs o ferimento primeiro na boca do jovem, fazendo-o beber, e então na boca da garota. Feito isso, ela colocou ambos em seus ombros e voltou a correr em direção à sua casa e esconderijo. Um enorme sentimento de culpa invadia sua consciência e ela sabia que nunca se perdoaria por ter feito aquilo...




A última coisa de que Gabriel se lembrava era de ver Dani sendo atacada e depois jogada no chão ao seu lado. Ele havia sentido uma lágrima escorrer em seu rosto ao encarar a amiga sangrando no chão, morrendo. E depois ele já não sentia nem via nada, nem mesmo aquela lágrima fria em sua pele. Então uma dor começou a surgir em seu pescoço e cabeça, se espalhando pelo seu corpo a cada pulsação fraca de seu coração, como um veneno. Depois disso tudo que ele sentia era dor, uma imensa dor por todo seu corpo. Ele perdeu completamente a noção do tempo. Não sabia se haviam passado minutos ou meses. Tudo que ele sabia era que ele queria que aquela dor parasse de vez, mas ela não passava, nem diminuía por um instante sequer. Ela apenas aumentava mais e mais.

De repente, tão repentinamente como surgiu, aquela dor sumiu... Simplesmente sumiu.

Gabriel voltou a si e abriu os olhos...

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