sexta-feira, 30 de julho de 2010

Capítulo 1 - Velhos Laços

Hector acordou de seu transe diurno. Ele sabia que aquele descanso não precisava ser diário, mas gostava de manter alguns hábitos antigos. Seu “quarto” não passava de um espaço dificilmente acessível para um humano normal em um prédio abandonado no centro da cidade de Porto Alegre. Ele limpara o aposento, colocando um guarda-roupa e uma cama. Fazer aquilo dera algum trabalho, mas valera o esforço.
Ao sair do esconderijo, Hector parou para apreciar a escuridão. Era uma noite de céu limpo e lua cheia. Ele podia ouvir as poucas pessoas que ainda circulavam por aquelas ruas perigosas àquela hora. Deixando isso de lado, ele saltou para o próximo telhado e depois para o outro. Ele estava faminto e precisava se alimentar.
Em poucos segundos já estava passando acima do túnel e chegando ao Parque da Redenção. Hector saltou agilmente de árvore em árvore. Ele sempre gostara daquele lugar, apesar de ele ter virado um recanto para marginais e drogados, um dos quais serviria como seu jantar. Ele, então, avistou o azarado da noite.


Lucas estava embaixo de uma árvore aproveitando seu momento de relaxamento quando quase derrubou de susto seu baseado ao ver a figura pálida de preto se aproximando. Ele podia jurar que o homem havia pulado de cima de uma das árvores sem esforço. Mas depois ele concluiu que estava vendo coisas por causa da droga e que aquele era apenas mais um dos góticos bizarros que frequentavam o parque à noite, voltando a fumar seu cigarro.
O homem continuou vindo em sua direção e, apenas quando ele estava a alguns metros, Lucas notou a pequena adaga curvada na mão dele. Porém, antes que ele pudesse reagir, o homem percorreu os últimos 2 metros em menos de um segundo, ergueu Lucas pela cabeça e cortou profundamente seu pescoço. Foi então que ele se deu conta de que aquele louco estava bebendo o sangue que saía do corte em seu pescoço! Quando Lucas tentou gritar por ajuda, seus pulmões não tinham a força necessária para puxar o ar. O ambiente foi ficando cada vez mais escuro, até que ele já não podia sentir nada.


Após sua refeição, Hector limpou sua boca e mãos com um pouco de água de um bebedouro público e seguiu seu trajeto. Ao se aproximar de seu destino, ele exigiu o máximo da força sobrenatural de seus músculos para poder efetuar o salto. Instantaneamente, todo o seu corpo foi lançado ao ar como se ele estivesse voando. Ele gostava de sua nova “vida”, apesar das desvantagens e das perdas que lhe foram impostas. Sentia saudades de sua família, de seus amigos, de sua antiga vida em geral. Mas ele resolveu se conformar com sua situação e aproveitar as vantagens que a transformação trazia. Hector pousou suavemente no telhado da antiga construção de formato retangular, sem produzir nenhum ruído, e sentou-se observando calmamente o interior da escola. Memórias de inúmeros momentos de alegria junto a seus antigos amigos invadiram seus pensamentos. Aqueles realmente foram dias felizes... Tantas brincadeiras inocentes, e outras nem tanto... tantas paixões adolescentes...
Esse último pensamento lhe trouxe um pequeno sentimento de tristeza, mas antes que pudesse continuar com essas idéias, ele ouviu uma voz conhecida às suas costas.
- Não consegue cortar certos laços, não é, MP? – disse Daniella em meio a uma leve risada.
- Já disse que não atendo mais por esse nome, muito menos por esse apelido estúpido – respondeu Hector, levemente irritado – Meu nome agora é Hecto...
-Hector Luminatti, eu sei, eu sei. Mas, pra mim, você sempre vai ser o MP – ela completou, piscando o olho.
Dessa vez, Hector riu junto. Ele olhou melhor para a figura de sua amiga, notando as mudanças que seu corpo sofrera com a transformação. Assim como ele, ela adquirira a aparência física de alguém de 20 anos, porém sua silhueta se modelara de uma forma que provocava inveja em qualquer mulher que a olhasse. Seu rosto também mudara um pouco, lembrando o de uma boneca de porcelana, e sua pele, antes levemente parda, agora era pálida e lisa. No caso de Hector, seu porte físico ficara mais atlético, com músculos definidos, mas longilíneos, semelhantes aos de um nadador profissional.
- Me diga – continuou ela – em que estava pensando tanto?
- Estava lembrando do dia em que isso aconteceu conosco. Foi tudo tão rápido...
-Foi mesmo... – nesse momento, Hector notou uma pequena expressão de dor no rosto de Daniella.
- Ainda não teve notícias dela?
- Não, nenhuma... Já se passaram dois anos. Me pergunto se ela está bem – ela respondeu desanimada - Se ainda está v...
- Não diga besteiras! É claro que ela está bem – disse Hector rapidamente - Isabel sempre foi uma garota forte – completou, tentando conformar a amiga, mesmo ele não tendo certeza sobre o que estava falando.
Houve alguns minutos de silêncio até que Hector resolveu tomar a iniciativa.
- E como anda a “vida”? – perguntou ele, enfatizando de uma forma relativamente cômica o gesto de aspas.
- Razoavelmente bem, apesar de alguns problemas com uns novos vizinhos roedores – respondeu Daniella em meio a risadas. Ela sabia que sempre podia contar com o amigo para fazê-la rir em momentos como aquele. Essa era uma das qualidades de Hector que ela mais gostava – E você?
- Bom...
Mas, antes que ele pudesse continuar com a resposta, eles ouviram um uivo lupino vindo das árvores do parque. Ambos viraram no mesmo instante na direção do som e avistaram sua fonte. Uma fera com forma de um lobo humanóide, de quase dois metros de altura, com fortes músculos e uma pelagem longa castanha-avelã os encarava como se eles estivessem profanando um lugar sagrado para ela. Eles decidiram ir até a criatura antes que ela viesse até eles, evitando assim uma maior exposição.
- Já se alimentou hoje?
-Sim, sim – respondeu Hector, imaginando quanto tempo levaria até que achassem o corpo do drogado no fundo do lago.
Ambos, então, partiram em direção à besta em alta velocidade. Esta, vendo esse movimento e entendendo sua motivação, se lançou em corrida para o interior do parque, parando em uma pequena clareira. Eles não tiveram grandes dificuldades em acompanhá-la, chegando rapidamente ao local da batalha. Lá eles se dividiram, indo na direção da fera cada um por um lado, tentando cercá-la. Foi então que Hector ouviu o leve rosnado às suas costas.
-Merd...
Um segundo metamorfo saltou das sombras, caindo sobre Hector, jogando-o no chão e se afastando. Rapidamente o vampiro se recuperou do impacto e se levantou para enfrentar o novo adversário. Ele avançou na direção do “lobo”, desviando por centímetros de um golpe de suas garras afiadas, e desferiu um potente soco em seu abdômen. Porém, antes que ele pudesse continuar, sua atenção se voltou para o grito de sua amiga.


Daniella distraiu-se com o novo oponente atacando Hector durante apenas um segundo, mas foi o suficiente. Vendo aquela abertura, a primeira criatura avançou na direção da garota, direcionando sua mão ao peito da vampira, com as garras apontadas para seu coração a muito parado.
Daniella já havia entrado em um número razoável de batalhas e, para ela, aquele não era um golpe difícil de desviar. Porém, aquele não era seu dia de sorte. Sua adversária antecipara o que ela ia fazer e já tinha sua próxima ação planejada. Antes que a vampira pudesse reagir, a fera deu-lhe uma forte joelhada no estômago, lançando-a velozmente na direção de uma árvore. Não perdendo tempo, assim que ela atingiu o tronco, a criatura avançou e prendeu-lhe o pescoço contra a madeira.
-Dani! – gritou Hector, ao ver aquelas presas enormes se aproximarem do delicado pescoço de sua amiga para finaliza-la.
Mas, para a surpresa de ambos os vampiros, no momento que a fera ouviu o grito de Hector, sua expressão mudou completamente, como a de quem vê um fantasma de seu passado.
- Dani? – perguntou ela com uma voz grave e muito semelhante a um rosnado – Gabriel? – perguntou novamente, agora voltada para Hector.
Ambos ficaram em estado de choque. O que estava acontecendo? Quem era aquela besta e como ela sabia seu nome humano, a muito abandonado?
A criatura humanóide soltou Daniella, fez um sinal para que seu companheiro relaxasse e se afastou para o centro da clareira. Ela ficou em quatro patas e todo o seu corpo começou a tremer violentamente. Seus músculos e membros encolheram rapidamente e todo o pêlo caiu, sobrando apenas um longo cabelo negro em sua cabeça. Então uma linda garota, pouco mais baixa que Hector, se levantou onde antes estivera a enorme besta. Ela parecia extremamente assustada e feliz em ver os dois, mas sua expressão mudou rapidamene para a de constrangimento, seu rosto ficando vermelho em questão de segundos. Ela havia percebido que estava completamente nua e parecia querer sumir.
Hector não conseguiu se conter e começou a rir. Tirou seu sobretudo preto e o jogou para a garota, não deixando de reparar em seu belo corpo. Ela pegou rapidamente o casaco e embrulhou-se nele. Hector reparou que a garota o encarava com uma expressão de raiva infantil. Nesse momento ele se deu conta. Se ele ainda tivesse sangue correndo em suas veias, ele teria parado. Ele conhecia aquele olhar e, olhando com atenção para o rosto da garota, ele também reconheceu seus traços. Ela pareceu notar sua expressão também.
- Isa...bel...? – perguntou. Pela primeira vez em sua nova vida, sua voz falhou.

3 comentários:

  1. Não preciso falar minha opnião né?? Em todo o caso... Ta muito bom \o/

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Mano *u* Então... 8D Eu já tinha lido antes ~laralá~ mas néé ~ Ler aqui no blog é diferente, não sei por que x3' Enfim, enfim ~ Não vi nenhum errinho *u* QUE LINDO y___ý~ Né, né ~ Continue escrevendo bem direitinho assim, tá? *u* Maninha sente orgulho de você *---*~ Quero ler o próximo capítulo *3*

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