domingo, 24 de outubro de 2010

Capítulo 9 - Cheiro de Bruxa

Sophia e Hector atravessaram o trecho de bosque que os separava da zona de batalha. Durante todo o caminho a garota não disse uma única palavra, e ele achou melhor não quebrar o silêncio. Eles já podiam ouvir os últimos ruídos de luta alguns metros antes do fim das árvores.


Dani ainda lutava contra dois adversários. A julgar pela proximidade dos corpos dos outros três vampiros, mortos no chão, eles provavelmente haviam atacado todos de uma vez.

A garota, também, havia sido forçada a liberar o poder baixo de seu clan. Seu cabelo branco dançava de forma caótica devido aos rápidos movimentos de esquiva que ela realizava. Dois inimigos a atacavam de lados opostos, dificultando muito seus movimentos. Sophia puxou seu braço para chamar sua atenção.

- Você não vai ajudá-la?

- Não é necessário.

A garota pareceu um pouco confusa com aquilo, mas não insistiu no assunto.

- Apenas olhe...

Dani desviou do golpe de um dos vampiros, ele pelo visto também era capaz de liberar algum poder de seu clan. Seu cabelo estava longo e revolto, lembrando uma juba. As mangas de sua camisa, provavelmente, haviam rasgado devido ao crescimento musclar de seus braços, que agora terminavam em afiadas garras ao invés de unhas. Sua face lembrava a de um animal selvagem, com músculos tensionados e a mandíbula um pouco proeminente.

Aparentemente, este era o único problema dela, já que o outro vampiro, apesar de habilidoso, não se comparava à garota. Porém, Hector mudou de idéia ao vê-lo retirar quatro adagas das pontas dos dedos de uma mão. Ele, também, pertencia ao clan Eisen, e, se Hector não estava enganado, o outro vampiro pertencia ao clan Vadállat.

Hector estava começando a reconsiderar se devia ajudar ou não a amiga, quando ela mesma respondeu àquela pergunta. Daniella se abaixou, desviando de um golpe do vampiro selvagem, agarrou uma de suas pernas e ergueu, tirando o equilibrio do inimigo e derrubando-o no chão. Em seguida, vendo que seria atacada pelas costas, Dani girou o corpo usando toda sua força, erguendo o primeiro adversário na altura de seu peito com o movimento e batendo com ele no meio do estômago do segundo vampiro.

O arremeçado ficou inerte no chão após o golpe, já que ele colidira com o equivalente a uma parede de aço. E o segundo, mesmo com sua resistência sobrenatural, estava ajoelhado com a mão no abdomen.

Não perdendo tempo, a vampira avançou velozmente em sua direção. Desferiu um forte soco no rosto do inimigo, fazendo com que ele caísse de costas, e cravou uma de suas mãos em seu peito, terminando com aquela luta.

Ao ver que o primeiro adversário começava a se recuperar do arremeço, Daniella arrancou da mão do vampiro caído as 4 adagas e jogou-as no outro, acertando-lhe justamente na perna que ele usava de apoio para levantar, o que resultou em sua queda novamente. Enquanto ele arrancava as armas na coxa, ela avançou sobre ele com o máximo de sua velocidade, rasgando-lhe a garganta durante uma pequena acrobacia.

- Acho que terminamos por aqui, não? – perguntou Guilherme, caminhando em suas direções – Devo admitir que não esperava tanta habilidade por parte de vocês dois...

- Obrigado – respondeu Hector, se aproximando de Daniella e pondo um dos braços ao redor de seus ombros – tá no sangue hehe.

- Agora sim, vocês parecem irmãos...

Todos viraram-se para Isabel que vinha da direção oposta a Guilherme. Verdade, quando transformados, Hector e a amiga ficavam com a mesma cor de cabelo, olhos e até mesmo com a cor da pele mais próxima. O vampiro nunca havia pensado naquilo daquela maneira.

- Bom, vamos para dentro dentro de casa? – disse Guilherme, tentando quebrar aquela atmosfera – Acho que não há mais nada por aqui...

- Ahn... Eu queria perguntar uma coisa primeiro – respondeu Isabel, atraindo a atenção de todos – Acho que sou a única com esse poblema. Mas, dá pra alguém me explicar o que raios são esses cabelos prateados, aquela mistura de vampiro com filhote de cruzcredo e o cara das adagas? Sem falar na transformação do Gabriel em coruja...

Sua voz foi morrendo a medida que ela terminava a fase. Todos olhavam espantados para a garota, que parecia cada vez mais arrependida de tê-la feito.

- Acredito que a culpa disso seja minha... Eu devia ter-lhe explicado antes... – disse Guilherme, em um pedido de desculpas – Apesar de eu também estar curioso com relação à sua transformação – vendo que todos olhavam curiosos para o vampiro, ele continuou – mas ainda digo que é melhor primeiro voltarmos para dentro...

O grupo voltou em silêncio, Hector aproveitou o tempo do deslocamento para imaginar a melhor forma de explicar tudo aquilo, não seria uma tarefa fácil.

Os seis entraram e se dirigiram para a sala de estar. O fogo ainda ardia na lareira. Lentamente, todos se sentaram ao redor das chamas.

- Pode me explicar agora?

- Ok... Para ser sincero, não consigo pensar em um método melhor que o de Elisabeth. Guilherme, onde eu posso coseguir uma folha de papel e uma caneta?

- Ali, se não me engano – respondeu, apontando para uma estante.

O vampiro foi até o móvel e pegou o material que precisava, seguindo para a pequena escrivaninha ao lado. Ele começou a esboçar um esquema, semelhante ao que ele vira Elisabeth fazer anos antes, com todas as informações necessárias.

Passados alguns segundos, o desenho estava terminado e ele chamou a amiga.

- Tá... Quando recém criado, um vampiro tem três poderes básicos: Sentidos, força e agilidade sobrenaturais. Primeiro os sentidos e, em questão de uma hora após seu despertar, a força e a agilidade. Uma vez que tenha dominado essas habilidades, ele é capaz de começar a desenvolver sua velocidade. Até aqui tudo bem?

- Acredito que sim...

- Ótimo. O ter ou não as próximas habilidades vai depender do “nível” do vampiro. Sabe como funcionam as quatro classes de vampiros?

- Lembro-me muito vagamente disso...- respondeu Isabel.

- Vou repetir então. Existem quatro classes na sociedade da minha raça. Primeiro os nobres, vampiros originais, que perderam a alma para um demônio, e a primeiras cria de um original. Em segundo vem os High, basicamente são as crias de um nobre, tirando a primeira. Os Medium são as crias de um High, e os Low as de um Medium. Fácil não?

A garota apenas balançou a cabeça de forma afirmativa.

- Um Low tem acesso apenas às habilidades que eu já falei. Um Medium Pode usar... como eu posso explicar... o poder “baixo” de seu clan.

- A transformação daquele cara e aquele lance de tirar armas do corpo são os poderes baixos de um clan?

- Exato. O poder baixo de um clan é determinado pela “espécie” do demônio que criou os originais deste clan. O clan Eisen, por exemplo, foi criado por um Demônio de Aço. O clan Vadállat foi criado com um Demônio Selvagem. Entendeu?

- Sim, sim. Mas e os seus poderes? Eu até consigo associar um deles com o poder “baixo” do seu clan... Mas e o outro?

- Bom... O poder baixo de nosso clan é o da metamorfose simples. O demônio criador do nosso clan era um Demônio Metamorfo. Com isso, nosso poder baixo nos permite mudanças de aparência e forma física, podemos até mudar de forma para criaturas com tamanho e massa corporal semelhantes à nossa.

- Wow! Mas... E esses cabelos brancos aí? - pergunta Isabel.

- Bom... Isso é como um segundo poder baixo do nosso clan... Quando nosso clan foi criado, o primeiro Luminatti fez uma espécie de pacto com o “espírito” da lua. E ele concedeu-lhe, dentre outras coisas, algum poder extra.

- WOW!

- E todos do seu clan tem esse poder? – dessa vez quem fez a pergunta foi Guilherme.

- Não todos. – respondeu Daniella – Apenas os que decendem por linha direta do criador do nosso clan.

- Como assim? – perguntou Isabel, um pouco confusa - não são todos decendentes dele?

- Não. Quando outro vampiro original é criado por um mesmo tipo de demônio, o clan decendente daquela espécie, normalmente, adota o vampiro.

- Legal... E quais são os outros poderes de um vampiro?

- Bom... Depois disso vem...




A conversa sobre os poderes vampíricos já havia acabado fazia meia hora. Agora, Isabel, Daniella e Hector conversavam sobre assuntos banais em um lado da sala; Guilherme e Miguel discutiam sobre aquela invasão e Sophia estava sentada, afastada de todos, com uma expressão pensativa.

- Eu não aguento mais essa dúvida! – Gritou a bruxa de repente, assustando a todos – Eu tenho certeza de estar sentindo outro odor além do de vampiros e lobisomens!

Todos olhavam surpresos e curiosos para a garota. De que raios ela estava falando?

- E qual seria esse cheiro?- perguntou Guilherme.

- É estranho... Parece com o de uma bruxa... Uma bruxa poderosa...

- Não seria você? – brincou Hector – Apesar de eu estar em dúvida com relação a essa segunda parte... – continuou a provocação – Mas bruxa e estranha você já é.

- Não! – gritou Sophia, indignada com a brincadeira – Não sou eu. Apesar de eu, também, ser bem poderosa – continuou ela, mudando rapidamente o tom de voz de irritado, para brincalhão e depois sério novamente – Como eu dizia, ele parece de uma bruxa... Mas é diferente... Como se estivesse mascarado por outro...

- Talvez você pudesse descobrir de onde ele vem...

- Farei isso...

Dito isso, a garota fechou os olhos e começou a respirar profundamente pelo nariz, girando constantemente a cabeça enquanto procurava a direção do odor. Lentamente, ela começou a se mover, primeiro na direção da saída, depois voltando e indo na direção dos três amigos. Para a surpresa de todos, ela parou na frente de Daniella e continuou a aproximar a cabeça, parando apenas a centímetros do pescoço da vampira.

- Nhargt!! – gritou a garota mordendo o pescoço de Dani.

- O que você pensa que está fazendo criatura!?

- Sei lá. Deu vontade de morder. – Disse Sophia, se atirando no colo da garota – A inversão de papéis tornou ainda mais irresistível a mordida.

A bruxa riu sozinha e então continuou, fazendo antes uma careta pra Hector por ele não ter rido junto.

- Mas voltando. Eu tenho certeza que você é uma bruxa... Tem certeza que você não está apenas imaginando ser uma vampira?

- Não – respondeu Daniella séria – Disso eu tenho certeza.

- Tá então... Mas você é uma bruxa, tenho ceteza disso. Posso sentir o cheiro... – enquanto falava isso, Sophia botava uma das mãos no peito de Dani – Posso sentir essa energia em você...

Todos olhavam espantados e curiosos para Sophia e Daniella. Uma vampira bruxa? Nenhum deles jamais ouvira falar de algo assim. Será que a garota não estava apenas enganada, ou então, brincando?

- Peitinho! – Gritou Sophia apertando o seio que ela segurava de Dani.

Antes que a vampira pudesse quebrar o pescoço da bruxa, ela pulou para o colo de Hector e se pendurou em seu pescoço, gargalhando.

- Proteja-me! Ela vai me matar! – Disse ela, ainda rindo.

Vendo que a amiga estava prestes a avançar sobre Sophia, Hector interveio.

- Dani! Calma Dani! Não vale a pena tudo isso. Ela só estava brincando. – O próprio vampiro não conseguia parar de rir, o que irritou ainda mais a amiga – Bell ! Socorro! Ela vai matar nós dois!

Vendo a cena, Isabel segurou com alguma dificuldade a amiga. Ela olhou para Guilherme e Miguel pedindo ajuda.

- Daniella. Não precisa se estressar tanto. Sophia é assim mesmo. É o jeito dela.

Vendo que todos estavam rindo, Daniella apenas sentou irritada no sofá, e isso durou o resto da noite.

Hector estava começando a gostar de Sophia...

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